segunda-feira, julho 25, 2016

A última letra.

Então, que fique você com a palavra final.
E dela, pode beber até a última gota,
Saborear o subtexto de cada sílaba
Se embebedando na tua certeza de ter sempre razão.

Os meus argumentos eu lanço no tempo,
E deixo que os dias os façam mais sóbrios
E quando a ressaca da intransigência  estiver latejando,
Quem sabe eu esqueça daquela frase não dita,
Que fecharia um parágrafo que já nem vale mais ser ouvido.

Encerro o debate pontuando o silêncio com um suspiro cansado,
E sintetizo esse pensamento num sorriso irônico  
Para que vire um texto calado, ainda que escrito 
Nas pausas eternas dessa última discussão.



segunda-feira, maio 09, 2016

A Cerca

Nós derrubamos a cerca
E invadimos o terreno baldio do tempo
Lá estava você com a foice na mão
Ceifando as flores secas que nunca brotaram
Foi pra isso que percorremos esse longo caminho?
Onde está a colina verde com rio de água limpa que tanto sonhamos?
Até o brilho do sol queima nossa pele
Exatamente como fez com as pétalas das rosas

Nós derrubamos a cerca
E encontramos as ilusões que outro dia juramos ser verdade
Invadimos o terreno das flores que nunca murcham
O ar aqui cheira a plástico e nada parece real.
Foi pra isso que andamos tanto?
Caminhamos nos círculos infinitos de nossos próprios sonhos
Para chegar num paraíso de brinquedo?

Nós derrubamos a cerca
E não importa quão quente seja o dia
Seguiremos nesse grande deserto
Regando a areia até que dela brote as rosas de verdade
Vamos empilhar as pedras até que se tornem colinas
Não há porque ter medo.
A foice já nos cortou.
A cerca já não existe mais
Nós já fugimos do tempo
Não há porque ter pressa.
Estamos, enfim, livres.

sexta-feira, janeiro 15, 2016

Então, chore.

Derrama essa lagrima na página,
Faz um rabisco por cima e deixa passar.
Só não turve a vista com água salgada.
Há tanto para se ver na vida,
Chora teu choro alto,
Sem murmúrio, Sem lamento,
O choro, bem chorado, vira sorriso.
Aquela lembrança boa, afogada no mar de tristeza,
Que, agora, te tranquiliza a alma.
Dor, medo, solidão, ódio,
Seja qual for a química da sua lágrima,
Deixa ela diluir no calor das boas memórias
Mesmo o pior dos invernos
Sempre carrega lembranças de um bom verão para refrescar a alma.
Mas se até o passado  atormenta,
Olha o hoje, o agora.
A vida vira numa esquina.
Abre a janela e deixa a luz entrar.
E se não há luz,
Se a penumbra da noite embala tua insônia, não te desespera.
Não demora e o sol volta trazendo o novo dia.
Por que não há dor que dure pra sempre.
Não há mágoa que atravesse a eternidade,
Não há lamento que ressoe no infinito da madrugada.
Chora! 
Mas lembra que até as lagrimas mais sofridas, um dia, secam.


15/01/2016