domingo, novembro 28, 2004

ANCESTRAIS

Percebo agora que fui amado num tempo distante
Quando alguém que morria amou o seu filho
De forma tão forte que acabou por amar a mim,
Já que dentre os muitos filhos que vieram depois -
Frutos daquele filho, daquele homem e de outros filhos -
Um deles sou eu.

Naquele outro milênio, onde nem sei o que houve,
Um homem perpetuou seu amor e seus genes,
E cá estou, ainda desfrutando daquele amor eterno.
Então, percebo porque sou amado ao me olhar no espelho,
Pois eu, sem o ser, amo os meus, sem os ver,
E sem saber faço o mesmo que aquele homem.

Agora, sei que ele ainda está aqui,
Amando a mim e a meus filhos, que também são dele
E esse amor nos sustenta
Nos faz seguir amados
Como sempre fomos,
Como sempre seremos,
Graças aos olhos que há milênios
Se cruzam no espelho
Pra não se sentirem mais só.

domingo, novembro 14, 2004

MELANCOLIA

Hoje não tenho tanto pra falar e
Nem as palavras fúteis que me sobresaem sob as unhas
Descrevrem o homem escondido na alcunha
- Ah, essa irônica rima no fim do meu nome –
Que um dia escolheram pra mim.

Hoje que não estou, como nunca estive,
Rodeado de gente e ninguém me ouve,
Posso dizer que sou louco
por achar que a vida, mesmo me dando tanto,
Acabou por me dar pouco.

Mas calo esse reflexo lamentativo,
E só o confesso neste verso convulsivo
Por saber que o grito não será ouvido.

Enxugo-me os olhos,
E levanto sem ter onde ir...
Meu trabalho é aqui, só,
Pensando. Parado.
.
.
Mas o fim dos meus versos se perderam em mim,
Num textinho que foi deletado
Que me falava tanto, mas o destino o fez perdido
E é assim que me sinto.
Por isso grito...
Para ouvidos vazios, mas
Grito! Grito!!! Grito!!!!!!!!!!!!!

Sem ser mais que uma exclamação...
Cujo eco só reverbera em mim
E me faz gritar mais
No silêncio ensurdecedor de mim mesmo
Por meus olhos serem apenas janelas
Com vista pra esse eco assustador da minha própria existencia
Refletida no vazio do texto pobre,
Da exclamação simbólica guardada em mim
E que não quer sair mais... é assim que sou:
A prisão de mim mesmo.
Um ouvido direito cuja companhia é o esquerdo.
Sozinhos nos seus próprios pensamentos
Indignados por ouvir meus lamentos
Mediocres nos meus versejos
E amedrontados pelo que digo e não vejo.
É isso o que sou, agora.

terça-feira, novembro 02, 2004

SOBRE NADA


O que é o nada
Senão um espaço em branco?..
Se bem que,
Poderia ser o nada uma tela preta?..

O nada é ambos!
Contanto que separados,
Vistos em tempos alternados,
Sendo assim:
O nada um todo branco
Ou um nada todo preto.
Cada um que escolha um
E que enxergue do seu jeito.

Mas, na ânsia pra se ver o Nada,
O leigo mistura o preto com o branco
E num golpe ótico, do nada,
Acaba por só perceber o Todo
Que são os nadas sobrepostos,
Interagindo como forças opostas
Onde a busca é a absorção do Todo
Revertido à seu Nada original.

Da fusão bicromática
Surge a possibilidade de formas não estáticas
Com regras não claras
Sempre deformadas pelo movimento constante
Das duas energias conflitantes:
o In e o Yang, como descreveu um chinês;
Cuja representação mais simplista
É o tabuleiro do xadrez.

Daí, então, que tudo veio do nada
E por isso que os Nadas estão em tudo.
Em cada um, em cada forma existe um pouco de nada,
A força que move a vida é a mesma que desestabiliza o nada:
Seja o nada escuro que sofreu um golpe de luz,
Seja um nada claro que se enganou com um jogo de sombras.
...
..
.
Nós?
Nada, é claro.