quinta-feira, janeiro 27, 2005

METÁSTASE


A meta dissemina-se pela reta e,
Tão forte quanto o leite que sai da teta ou
A força da certeza que se prolifera nas veias,
Arrasta-lhe no sangue as células podres,
Fadadas ao esquecimento,
Filhas do antigo lamento que, agora,
Te farão descer por terra.

Arracou-lhe a raiz cravada na pele, mas,
Eis que,
A porra dela ainda anda na relva e
Contra esta sarna é nossa guerra.
Mesmo que não vencida,
Haveremos de cuspir-lhe na derrota,
E xingar-lhe antes da trégua:
“Sim, virá o fim,
Mas não virá pra mim.
Pois nesses versos me propago,
Me utilizo do tempo como régua
E é com esta que me salvo,
Da rebéldica má formação das células...”

Assim matamo-as, e, aos poucos,
Nos fazemos metástase.


* em homenagem a memória de Maurício Cunha.

sexta-feira, janeiro 21, 2005

INVERTIDO


Não. Desta vez meu poema é outro.
Não vou falar de tristeza, doença, maldade e
Nem pretendo me adentrar nas sensações do morto.

Desta vez, vou inverter meu raciocínio
Somente pra cumprir o meu desígnio:
Trazer o bem aos que se adentram no mal.

Então hei de lhe dizer, em paz e sereno,
Que dá maldade já provei o veneno
E, deitado no meu leito final, garanto:
Se pular esse caminho terá um melhor destino.

Mas não sou eu quem me perderei mais em conselhos,
Pois foram estes os meus primeiros erros:
Dizer algo que achava bom e, pro meu espanto,
Não passavam de males, lamentos e prantos.

terça-feira, janeiro 11, 2005

FRIA TEMPESTADE


Que maldito frio arrependido
É esse que me prende como um bandido
E me força a lamentar-me
Por algo que me julgo certo e convicto?

Minha insuportável alma gelada,
Longe da fogueira dos desejos,
Percebe que só não é nada,
A não ser um aglomerado de versejos mal feitos.

Mas são versejos
Que me farão voltar a mostrar os dentes
A olhar pra frente e seguir este caminho inconsequente,
Que tracei ao te cuspir de volta pro mundo.

Sim, voltarei a sorrir, como sempre o fiz,
E este fim infeliz, há de ser uma parte da raiz
Da nova vida que me espera, e boa será,
Como é, foi e já era.

Vou, sim, acatar a vingança que me impôs
Por saber-me digno do teu castigo,
Por saber-me ser eu a semente da tua fúria.
Mas ei de ainda ver doçura nos teus olhos em brasa,
Fingindo ser pura, enquanto arrasa esta cruel criatura
Que agora vos fala: Eu.

Entretanto, por enquanto, sigo assim:
Pagando a pena
Que é pequena,
Como a lembrança do nome
Que se perde na rima,
E que só não digo
Por no fim desses versos
Já tê-lo esquecido.

domingo, janeiro 09, 2005

RÉU CONFESSO OU DUVIDAS OU "?".

Vai me dizer o que é a vida?
Há de acabar com esta piada,
Com esse mistério sem graça,
Que pra fazer rir fundou mais de mil raças,
Milhões de tipos, bilhões de seres,
Que O são sem O ser?
-- --
Há de me explicar este breve eterno instante
Para que eu possa dizer aos próximos,
A resposta de mim tão distante, agora,
Passado os dias que eu tudo sabia,
Passado os tempos do sentir-se pra sempre,
Passado o passo desajeitado daquele que aprende andar,
Há de me dizer a explicação do fato que não pelo ato se,
Dentre os verbos, não sei o certo?
?
Não me responde
;
Então,
De que vale o peso nesse crânio oco,
Senão, pra me deixar mais louco?
/
?Percebes que deu a mim e aos meus a dádiva,
E mesmo assim te sentimos em dívida
Por não esclareceres a dúvida?
/
Até chegar a resposta ando pelo incerto,
Neste caminho deserto,
E acalmo a ignorância,
Com a certeza de tê-lo por perto.