sexta-feira, outubro 22, 2004

COVARDIA

Um dia ainda largo tudo!
Jogo meus sonhos prum lado,
Minha vista pra outro,
Pego a estrada e sigo sem rumo.

Um dia ainda largo todo o Mundo
Pra se casar comigo.
Terei eu mesmo como único amigo.
E nesse dia, não vai ter mulher nenhuma pra me chamar de vagabundo,
Nem vagabundo nenhum pra me chamar de careta,
E nenhum careta vai me rotular pra doidão.

Um dia ainda dobro uma esquina
E minha vida emburaca num trilho
E me apresso pra viver meu futuro
Afasto de mim meus problemas
E me enterro num mundo fechado,
Envolto em madeira por todos os lados,
E fecho meus olhos pro mundo,
Achando que fiz a minha parte,
Na certeza de ter sido um covarde.


sábado, outubro 16, 2004

ANSIEDADE

Não calculo mais quantas noites
Espero aquilo que nunca vem.

Esperanças internas me assaltam o pensamento,
Desarticulam meu funcionamento
E ando transbordado em pressa,
Sem saber de que.

Circulo a sala
E o tempo segue na cadencia
Da batida incessante:
Tum-tum-tum
Penso em algo que era pra ter feito,
Não fiz. Talvez não fosse importante.
Só quero lembrar o q’era
Que eu pensava há um segundo atrás,
Mas meu pensamento se perdeu num fio
E sigo esperando nem sei mais o que,
Será bom ou ruim, não sei.
Me encolho pra esquentar a barriga, mas
A boca do estomago mastiga
O frio pavoroso do mau presságio.

Espero passar, tenso, e não passa. Ando,
Circulando os passos que antes circulavam a sala,
Suspiro, respiro, transpiro
E lembro daquele primeiro lampejo esperançoso,
Donde estava o pensamento bom, de algo bom,
Que tinha pequena chance de acontecer pra mim,
Caso não me aconteça nada de ruim, antes.
Quem chegar primeiro fica.
Mas chegará alguém?

Penso e calculo um cálculo inútil
E me invento uma resposta
Que só morre no segundo seguinte
Quando já nem sei mais a pergunta.
E essa meada sem fio ou ponta
Me amarra no tempo
Sem registro ou referência
Que não seja o relógio
Me latejando o peito:

Tum-tum-tum...

domingo, outubro 03, 2004

Minha Querida...

Quando, anos mais tarde, for ler esta carta
Não esqueça de conferir a assinatura
Que te escrevi a baixo.

Transparente e em forma de gota,
Assino esse testemunho
Com lágrima que brotou de um rascunho
Escrito na alma e talhado em meu peito,
Que agora te entrego em carta.

E quando, naquele dia distante, for me ler,
Não esqueça de lembrar que já fui como você
E me amei, como te amas e também vivi
Achando não ia ter de perecer.

Quando fores me ler no alvorecer da vida,
Lembre-se do amor que me bateu no peito
Não só no meu como no de tantos homens
Que agora deitam neste mesmo leito,
O tempo.

Lembra de enxergar aquela fagulha de lágrima
Agora, amarelada. E lembra que ali ela está
Porque um homem pensava nos de antes
E amando o passado
Esse homem se curvou ao futuro
Que agora minha assinatura saúda.

Então quando me ler,
Não esquece que com esta carta me defendo
Pois nela me resta o eu.
E nela te dou o meu sou,
Pra você, agora, que eu fui.

Mas guarda no canto da tua cabeceira,
E lembra que a ti estarei sempre,
Não importa o peso e o fardo,
Estarei, mais que em letras, com a alma,
Com ela estarei do teu lado.
Sempre que o fardo se faça pesado.

Saberá, ao leres esse pequeno documento,
Que te escrevo agora com um pingo de lamento
Pois sei que nesse momento, não sou eu quem está o lendo,
Mas estou aqui, nessa carta.
Pra dizer que a força que me guiou pra este hoje,
Te serve neste presente, que chamo amanhã.

E quando chegares no fim,
E pensar que não há mais ontem,
Nem hoje, nem carta...
Lembra que também vivi, também sofri
E sempre sorri.
E sorria!:)
Pois somos assim: perenes, viventes e fortes.
E foi com força e com amor que me fiz
e me tornei tudo que sou:
Seu pai.
Mesmo se não o sendo agora, sou!
Você é! Você está aí!
E eu estou cá:
No final dessa carta
E pra sempre em ti!

Não esqueça,
Minha querida.