segunda-feira, fevereiro 06, 2006

EXORCISMO

Segura em ti este suspiro e,
Antes que termine de me ler,
Mergulha-te no fundo d´alma
E cospe aquele domônio que jaz,
Mas que ainda te faz retorcer...

Revira os olhos num suspiro afoito
E como que se estivesse no intervalo do coito
Urra um grito rouco, sem força, dissimula o sufoco
E mostra teu corpo sem couro.

Escancara teu pecado esdrúxulo
E escarra na tua mesquinharia infantil
E verá que ser sábio não é mais que ser burro
Que encontra o prazer numa mijada senil.

Abandona teu desejo fútil,
Lamenta sua utilidade inútil
Se reencontre com as forças
Que você nunca viu...
E será, enfim, quase você.

terça-feira, janeiro 24, 2006

Infeliz

Ainda que fossem tristes as coisas por mim faladas,
Ainda que sejam mal ditas essas palavras sinceras,
Vale dizer-te o que penso e,
Ainda que eu não pense tais coisas,
Haverá de acreditar em mim:

Haverá de acreditar na beleza que descrevi e que você não viu...
Haverá de se ressentir da tristeza que tu versejas sem ter lido...
Haverá ainda de lembrar da alegria, outrora esnobada,
Que você viu passar ao seu lado enquanto chorava
Lamentando por algo não visto... porém desejado.

Assim é o ser infeliz.
Que chora sem lágrimas,
Que esperneia sem raiva,
Que odeia sem ódio...
Aquele que, sem ter porque morrer,
Se mata em vida pra fugir da vida que não conheceu...

...E ainda que esteja morto, triste... infeliz,
Haverá de lembrar das minhas palavras
E haverá, certamente, de negá-las...

Ainda que seja tarde.