quarta-feira, setembro 15, 2004

A CONTA

Mascava um peixe num restaurante com a filha
Até que uma espinha lhe parou na garganta.
Como não queria chamar a atenção da criança
Sem alarde, grunhiu um urro de expulsar catarro.
Nada.
Lá continuava a dita
E quanto mais o pai tossia
Mais a danada espetava.
Era uma espinha predestinada.
Ficou mais aflito.
Deu gole n'água e nada.
Era branco mas ficou pálido.
Vermelho esquálido, azul e roxo,
Se debatendo no chão, torto.
- Chame um doutor –
Gritou alguém que passava.
Mas um médico ali não tinha.
Era mais um ponto pra espinha!
O manual de socorros
Veio em tom de brincadeira
Remetendo à Manuel Bandeira:
- Este pobre vive hora derradeira!
- Perfuração esofágica!
- Com infiltração no pneumotórax!
- Quantos anos tem teu pai?
- Trinta e três.
- Quantos?
- Trinta e três.
- A idade de Cristo
Gritou de longe um freguês
Quebrando o próprio gelo.
Mas de fato,
Um homem foi crucificado pela espinha
E à seus pés, ao invés de Maria,
Estava sua filha.
- Quantos anos o pai da menina tinha?
- Trinta e três... – disse o garçom
E penalizado, tomou todo cuidado:
- Cheque, dinheiro ou cartão?
Sem saber que o saldo
Já estava pago.

3 comentários:

Anônimo disse...

e aí Claudio, já fazia um tempo que não passava aqui, relamente gostei desse, e na minha mente fértil, vi a cena e um curta .... tem futuro ... bjs Veri

Minusfour disse...

Muito bom! Realmente muito bom. Isso sim é texto agonizante e cômico. Difícil separar ficção da vida real.

Abraços,

De Paiva

nobody disse...

Gostei do seu blog! Mesmo!