A parteira puxou a criança,
Perguntou pra mãe se ela a queria,
E a mulher não sentiu nada,
Que não um latente desejo de recusar a cria.
O fez. Como, eu não sei.
Mas sei que a menina se fez,
E desafiando sua sina,
O abandono numa esquina qualquer,
Encontrou uma mãe que a queria
- E, mesmo sendo mãe postiça,
Valia por duas de sangue. -
E a criança, não conhecendo tais laços,
Se deixou envolver pelos braços da mulher
Que pra sempre a chamaria de filha.
Assim começou sua família.
Vieram irmãos, pais, depois padrastos,
E na rotina do dia a dia
Foi crescendo a menina,
Que, sem perceber, num golpe de vista,
Se deitava na sala do parto.
Agora num hospital,
Mas que lembrava-lhe aquele velho quarto,
De um passado invertido,
Visto na saída de um ventre
Nem um pouco maternal.
Uma nova criança nascia.
E entrelaçadas pela corrente sangüínea,
As duas corrigiram aquele esquecido momento triste,
Pois essa outra filha que vinha,
Vinha certa de estar sendo bem vinda.