quinta-feira, abril 07, 2005

Meu Camarada.

Eu tenho um velho camarada,
Que nunca deixou de apertar minha mão,
Nem naqueles tempos de que nada lembro,
Nem nos dias maçantes da juventude,
E ainda agora
Sinto a mão deste meu querido amigo
A me bater na cabeça
Me chamar de menino
Me explicar as coisas que não entendia,
Mas que hoje enfrento sem medo
Por que esse velho me disse como o fazer.

Todas as manhãs me ligava,
Me buscava pra não me ver só,
Fazia das minhas cada dor sua,
E mesmo quando eram dores fúteis,
Era ele quem me ensinava a cura.

Nunca chorou. Sorriu bastante.
E quando eu me lamentava,
Este meu velho camarada
Firmava o azul dos olhos nesses meus castanhos,
E me olhando como quem olha um estranho,
Dizia que aquelas eram lágrimas úteis,
Pois, não só amoleciam a dureza da alma ali castigada,
Mas como também continham toda a beleza
Que só existe nas lágrimas bem choradas.

Depois me enxugava o rosto
E apertava minha mão
Como quem segura um filho que cai,
E, eu, por ser um filho de algum do seus filhos,
O sentia maior que meu pai.

Assim seguiram as horas daqueles dias seguros,
E agora, aqui, mesmo que distante,
Longe desse meu camarada brilhante,
Sinto sua presença a cada instante,
Pois foi ele um dia quem me disse
Que, enquanto ele caminhava pro seu destino,
Eu apenas começava o meu caminho,
E que o amigo do peito está no peito,
Nem sempre ao alcance da mão.

Então, vou seguindo nessa noite intranqüila,
Escutando sua voz
Como se fosse um sussurro me guiando no escuro,
Dizendo que não é só a morte que leva os homens,
Mas vida também nos leva
E é por ela que devemos nos deixar carregar,

Eu deixo.
Mas não me esqueço de também carregar
Esse meu camarada comigo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Cláudio,
Um camarada que sempre está contigo, com certeza...Emocianada poética...Cantando a amizade, as palavras sábias e os ensinamentos mais valiosos da vida...
Adorei!
Saudade amnigo!
beijos poéticos
*Pupila