domingo, fevereiro 20, 2005

Aquele Tanquinho

Antes que aquelas roupas, estiradas ao tanque, criassem fungos,
Fiz questão de lavá-las com gotas de sangue,
Para que nele minhas antigas vestes
Mergulhassem fundo, e ali ficassem de molho,
Digerindo as manchas desse meu passado sujo.

Era um tanque como este que me curvo agora:
Alvejado pela cândida esperança que sempre me descoloriu
O fundo escuro e vazio que carrego em cada olho.
Por isso que digo:
Foi num tanque que minha vida evoluiu!
E nunca me importou o fardo a ser lavado,
Pois sempre tive a certeza que, mesmo que pesado,
Haveria de ser um fardo algodoado...
E se fosse seda, linho e até fio de naylon
Também lavaria com destreza, pois,
Sendo tintureiro por natureza,
Tiraria de cada trapo a essência da beleza
Dos fios com que tinham sido costurados.

Não posso dizer que, desse tanque,
- meu velho tanque de guerra -
Tirei as roupas mais belas.
As pretas se tornaram cinzas
E assim me pareceram limpas.
Mas as brancas iam ficando amarelas
O tecido ficava mais fino... e dilacerado
Se antecipava ao seu destino:
Abrigar um velho, antes menino,
Que viveu a vida pra passá-la a limpo,
E hoje, escondido em trapos,
Perdeu o medo de morrer farrapo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Cláudio,
Esse tanquinho ... presenciou a fibra dos versos que lavam. enxaguam e conduzem a vida com humildade e muita garra.
O desgasate vem, mas digno de nunca ter deixado de ser omisso a sua própria vida.
Assim leu e sentiu meus olhos.
beijos poéticos!
Pupila