domingo, março 06, 2005

Diálogo Idiota

- Há quantos anos estamos aqui
Nesse mesmo quarto, nessa mesma vida
Vazia, quando o que na verdade o que eu mais queria
Era ter de volta aquela tua juventude perdida?

- Então porque ainda não foi? Porque ainda não se libertou de mim e seguiu pra onde bem quis?

- E queria que eu foste pra onde preso a você
Como quem se prende numa cela com grades redondas,
Cercadas de carne por todos os lados?

- Lamenta essa vida que seguimos juntos, não é? Mas diga?
Quem te carregou? Quem te manteve em pé para que visse
As luxurias que agora você diz não ter visto?
Quem se sacrificou por cada vontade sua?

- De que adianta. Se essa minha vontade de vida
Você ameaça com sua existência perecível.

- O que houve com a sua esperança!
Costumava se achar eterno
E agora teme se ver abandonado?
Não era eu o monte de carne,
O simples corpo que você estava apenas usando?

- E não é exatamente isso?
Um corpo finito que vai se evaporar com o tempo.

- Te evaporo junto. Não esquece que você está em mim.

- Por esse instante. Hoje estou aqui, amanhã estou ali../

- (INTERROMPE) E um dia: jaz.

- (IRÔNICA) Bobagem, acredito na vida eterna.
Já você, não pode se vangloriar do mesmo.

- (IRRITADO) Só está aqui, porque está em mim. Só é, porque eu sou. Porque penso, logo tenho de existir em pensamento.

- (RI DEBOCHADA) Pretensão de um corpo doente...

- Ingratidão de uma alma deslumbrada...


E seguiram brigando, brigando... Até que o corpo, doente e cansado, caiu desalmado. E a alma seguiu descorporada, talvez livre, mas antes olhou para trás, com uma lágrima de saudade suspensa no olhar... Estava novamente só!

Um comentário:

Anônimo disse...

Cláudio,
Um diálogo que comanda os dias,
Momentos onde o corpo se rende;
A alma questiona a vontade de viver...O corpo se esvai, ela voa...e traz nos últimos versos a necessidade que ainda clama...e nos faz refletir...hora de aproveitar essa dupla da melhor maneira possível e amá-las...temos essa obrigação e missão!
beijos poéticos