quarta-feira, agosto 04, 2004

DORME

Dentro de ti
Dorme um ente querido a mim.
Dentro de ti dorme outra parte de meu eu,
Que sei, não se tornará homem como eu.

Dorme no seu ventre,
Os restos de um amor partido,
Transformado na semente,
Do ser que não será vivido.

Então, no silêncio de suas entranhas,
Cala-se o pequeno inocente.
Ele não sabe do mundo,
Não sabe das dores, dos amores
Ele não sabe da gente

Absorto, distraído com a aorta que lhe nasce,
A aorta que há de ser-lhe arrancada
Não saberá ele o que é a vida, nunca.

Ingênuo, pensa: “Como será que serão meus pais?”.
“Não o seremos, nunca”, Respondemos.
E, absortos, nos arrependemos.

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