segunda-feira, agosto 09, 2004

TENTATIVA DE VÔO

Na passarela do matrimônio
Fomos nós o casal vaiado.

Meu nome, que tu carregas,
Transformou-se no pseudônimo
Da infelicidade dos “desamados”,
Que na febre da cerimônia
Fizeram juras não pensadas,
Agora juras amaldiçoadas
E seladas com ouro.

O ouro que me aperta o dedo,
Onde guardo meu segredo,
O meu sonho fracassado de não ter feito
O que não foi: a alegria de nós dois.

Sonho e sumo. Sumo e vou.

Vou triste, sem caminho,
Sou pássaro que perdeu o ninho
E leva a vida a voar.

Com asa leve e bico duro,
Mas sem noção de norte,
Pois a ti amarei até morte,
E o que faz meu vôo forte
É o embalo dessa pena
- não a sina e sim a pena -

E até o ouro que me prende os pés,
Que me faz voar baixo, lento,
Não há de ser peso,
Pois nesse caminho sem vento,
O que me leva é teu soprar.

E se me sopras para longe de tuas asas, eu vôo.
Vôo reto, só, com cabeça de passarinho,
Voando sem destino até o dia começar,

E então acordo, no mesmo ninho, e me calo.
Não pio, me vaio.


5 comentários:

Claudio L. disse...

Esse texto, creio que assim como o blog inteiro, é melhor visualizado com configuração de tamanho de
texto mínima. Acerte a configuração no menu Exibir no ícone Tamanho de Texto.
Abraço, obrigado por estar no blog,
Claudio.

Anônimo disse...

lindo texto, porém o passáro não pode calar-se há de piar para viver, ser feliz e fazer com que os outros a sua volta alegrem-se. bjs Veri

Anônimo disse...

Você como sempre, escrevendo coisas maravilhosas! Adorei seu blog! De verdade! ;) Beijos, Rô

Anônimo disse...

gost imenso deste texto. fantástico

luadepedra disse...

Querido Claudio,

Assino as palavras do Vitor e acrescento.
Este poema além de terrivelmente belo, é terrivelmente fulminante.

Deixa-me virar do avesso o teu poema.
Deixas?

É que eu também vôo, umas vezes mais alto, outras bem baixinho....e sempre encontro pouco quando se diz que se encontra o infinito....mas prossigo ao vento.

O fascínio das palavras ditas em momentos febris, quase sempre são teletransporte, para dimensões sombrias, como foi o caso.

Mas o voo não cessa e é cada vez maior e consistente o bater das asas....á medida que nos compenetramos da imensa potencialidade da comunicação verbal.

Em suma, é aplaudindo o dia presente que curamos o dia de ontem e pronunciamos o dia de amanhã.

Sendo que estas palmas são reparadoras de asas.

1 Bj*
Luísa